terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

asasasa

No céu, a lua reluz, iluminando a cidade de Memphis, no Tennessee. O movimento é baixo, mas condizente com o horário de quatro e meia da manhã. Na principal avenida da cidade, volta e meia passa um carro. Nos becos, mendigos dormem abrigados em caixas de papelão. Enquanto alguns bares fecham, expulsando seus ultimos fregueses, na maioria dos casos bêbados, as padarias começam a abrir.
A lua vai cedendo seu espaço ao sol. O escuro da noite vai se tornando alaranjado gradativamente e a cada minuto mais ainda. A cidade de Memphis vai acordando para mais um dia. O inicío de um novo semestre.
Os olhos se abrem mais uma vez. Na escuridão, ninguém pode vê-los. Não faria diferença, ali não estava mais ninguém além de Ryan Hopwell. Fitando o teto de seu quarto, as mãos cruzadas sobre o peito, olhando para a escuridão. Mais uma vez, ele acorda. Não precisa fitar o relógio: Ele sabe muito bem que são quatro e meia da manhã. É mais cedo do que o de costume. Mais cedo do que vem sendo nos últimos 10 de seus 17 anos. Ótimo, ele pensa. Acabou o sono sem interrupção. Deitado, olhando para a escuridão. Sem pretensões de levantar ou qualquer outra coisa. Ficaria lá por mais uma hora ou duas. Sempre foi assim. Então levantaria, comeria um Waffle preparado por sua mãe e logo estaria pronto para voltar à escola. É a última porcaria de semestre.
No escuro ele não pode ver as paredes brancas, cobertas de pôsteres de filmes de terror. Às suas costas, um homem deformado e manchado de sangue rasga a garganta de um infeliz sobrevivente de um filme de zumbis; a grande neve em formato de prato pairando sobre a Casa Branca antes de um iminente ataque; Figuras deformadas, psicopatas, sangue. Seus olhos não podem ver, mas ele pode. Da mesma maneira que pode ver que Eddie Van Halen está pendendo de seu lugar na parede. Arrumaria isso mais tarde (ou seria cedo? Ele nunca podia dizer).
Ryan vira-se para a parede. Não conseguiria dormir, e embora não gostasse, seu corpo estava cansado. Ficar ali, deitado era o que tinha que fazer. Não lhe atraía, tampouco, levantar. Não poderia fazer nada. Deixou sua mente viajar então. Liberou-a de seu corpo material e a seguiu sair de seu quarto, descer as escadas, verificar que não havia ninguém lá. Por uma fresta na janela ela saiu. Ganhou primeiro a morta Baker Street, mas seguiu. Os Garcia estavam dormindo, assim como os Jaden. Mas os vizinhos da frente por alguma razão estavam acordados. Não gostaria de saber por que. Deixou a mente viajar.
Como um helicóptero, ela subiu, dando a Ryan uma visão aberta da dormente Memphis que se preparava para acordar. Gostaria de ir até a escola, mas lembrou-se que naquele horário todos ainda estariam dormindo, inclusive Patty e Eric. Como se um aspirador tivesse sido ligado, algo puxou sua mente de volta para sua cabeça. Ela recuou, caindo como um avião descontrolado, depois como se estivesse amarrada em Ryan (e de certa forma estava) voltou, como uma linha de pesca. Pela mesma fresta pela qual saiu, entrou. Subiu as escadas, e se não fosse sua mente faria um belo estrago na casa.
Um porta-retratos caiu, produzindo um ruído de vidro se estilhaçando no chão. Ryan sentou-se na cama. Aquilo tinha realmente o assustado. Era como se sua mente tivesse causado a queda do porta-retratos. Não ouviu barulho vindo do quarto de seus pais. Indagou-se se havia imaginado tudo aquilo. Voltou a deitar. Imaginação. Isso, era a resposta mais plausível. Um frio vento bateu contra sua janela. Estava em janeiro, frio era comum. Mas aquele frio parecia diferente. Era penetrante e sinistro. Entrou por debaixo de seu cobertor e pareceu acariciar cada parte de seu corpo.
Ryan se encolheu. Franziu o cenho. Não se lembrava de outro frio como aquele. E tinha uma memória muito boa. Não iria libertar a mente daquela vez. Iria apenas lembrar...
Pois parecia que já eram mais de seis da manhã. Os primeiros raios de sol entravam pelas frestas de sua janela e começavam a mostrar o pôster dos aliens. O de Eddie Van Halen já havia caído e agora estava no chão, esperando por mais fita adesiva para exercer sua função novamente.
Ouviu um barulho em sua porta entre aberta. Alguém estava entrando. Deveria ser sua mãe. Mas não ouvia o barulho dos chinelos e sim de saltos. Saltos? A porta abriu, mas não foi Alice Hopwell quem entrou, e sim, uma mulher vestida de preto.
Não era muito mais alta que Ryan (talvez com os saltos). Era loira, os cabelos bem claros, com uma franja caindo na testa, desciam até metade das costas. Os olhos eram azuis como o mar do Caribe, e ela usava sombra preta como a noite que fora até poucas horas. Usava um vestido preto bem justo, realçando suas formas. Parecia ter vinte e cinco anos, mas a mente dizia a Ryan que tinha 17. As unhas eram compridas e pintadas de preto também. Usava saltos de uns 10 centímetros, e parou em frente da cama de Ryan, com um sorriso estampado no rosto e a mão na cintura. Mordeu o lábio inferior, que brilhava pelo excesso de batom vermelho.
- Até daqui a pouco – disse.